sexta-feira, fevereiro 03, 2006

NA GUERRA, A VERDADE DA PAZ



Absalão, montado numa mula, encontrou-se, de repente, em frente dos homens de David. A mula passou sob a ramagem espessa de um grande carvalho, e a cabeça de Absalão ficou presa nos ramos da árvore, de modo que ficou suspenso entre o céu e a terra, enquanto a mula em que ia montado seguia em frente.
Alguém viu e avisou Joab: «Vi agora Absalão suspenso de um carvalho».
Joab respondeu: «Não tenho tempo a perder contigo.» Tomou, pois, três dardos e cravou-os no coração de Absalão.
David estava sentado entre duas portas. (…)
Entretanto chegou um mensageiro etíope e disse: «Saiba o rei, meu senhor, a boa notícia: o Senhor fez hoje justiça a teu favor, contra todos os que se revoltaram contra ti.»
O rei perguntou ao etíope: «Está bem o jovem Absalão?» E o etíope respondeu: «Tenham a sorte deste jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal!»
Então, o rei, muito triste, subiu ao quarto que estava por cima da porta e pôs-se a chorar. E dizia, caminhando de um lado para o outro: «Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!»
Disseram a Joab: «O rei chora e lamenta-se por causa de Absalão.»
E naquele dia a vitória converteu-se em luto para todo o exército, porque o povo soube que o rei estava acabrunhado de dor por causa do filho.
(II Sam 18, 9 sgs.)

A verdade da paz deve valer, e fazer valer o seu resplendor benéfico de luz, mesmo quando nos encontramos na trágica situação duma guerra. Os Padres do Concílio Ecuménico Vaticano II, na constituição pastoral Gaudium et spes, ressaltam que, «uma vez começada lamentavelmente a guerra, nem tudo se torna lícito entre as partes beligerantes». [7] A Comunidade Internacional dotou-se de um direito internacional humanitário para limitar ao máximo, sobretudo nas populações civis, as consequências devastadoras da guerra. Em numerosas circunstâncias e com diversas modalidades, a Santa Sé manifestou o seu apoio a este direito humanitário, encorajando o seu respeito e pronta actuação, convencida de que existe, mesmo na guerra, a verdade da paz. (Bento XVI)

Está na raiz da cultura greco-romana – quem duvidar pode ler o que nos resta do grande teatro trágico - cómico, de Ésquilo a Eurípedes, passando por Sófocles e Aristófanes – que a violência gera a violência, num crescendo em espiral, só remediável quando à vingança pessoal se sobrepõe uma norma transcendente aos interesses directos dos contendores.
A esta intuição dos grandes pensadores gregos vem juntar-se a luz da Revelação, que põe acima dos particularismos de cada indivíduo e de cada povo, a verdade universal do homem, criatura e imagem de Deus.
É aí que radica a tristeza que, no relato das lutas de David com os seus adversários, se abate sobre o exército vencedor, depois de ter tratado cruelmente o inimigo vencido.
É aí que vai também lançar as suas raízes a doutrina expressa pelo papa Bento XVI na sua primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, que ele faz depender da verdade: porque onde reina a mentira germina a guerra: E esta só pode desembocar na paz, se respeitar a respectiva verdade.
Será que entendem isto os responsáveis pela vida das comunidades, que, na sua altíssima maioria, se reportam à revelação bíblica?

1 Comments:

Blogger Alx said...

"Será que entendem isto os responsáveis pela vida das comunidades, que, na sua altíssima maioria, se reportam à revelação bíblica?"

Não sabemos, se sabem ou não. Porque no Oriente da questão cada vez mais existe a ofuscação "transcendente" (ou não) que leva a que o medo e a repulsa (e o ódio) se tornem cada vez maiores, alicerçados na sensação de tarefa a cumprir e de libertação a exigir.

No Ocidente da questão, acho que a insensibilidade crescente, só diminui para questões minoritárias e umbilicais, e não pactua (aparentemente) com devaneios pseudo-espirituais... Ou então são estes mesmos que dão aso a todas as formas de liberdade, ó não!

Depois, depois existimos todos nós, os do Oriemte e Ocidente, sem saber bem o que somos... assistentes, actores, protagonistas, mestres de cena...
A verdade é que o espectáculo continua...E nós estamos e somos lá!!!

Abraço

9:39 da manhã  

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