quarta-feira, outubro 08, 2008

IRRADICAÇÃO OU ERRADICAÇÃO?

Afinal, em que ficamos?

O cartaz chamou-me a atenção pelo seu colorido. Aproximei-me, fui vendo e lendo: pareceu-me bem concebido, com um texto razoavelmente adequado. Até que reparo no destino que se pretende dar às receitas eventualmente conseguidas: “... a irradicação da pobreza”.
Claro que fiquei desolado. Menos mal que tal palavra não existe no português actual, porque se existisse significaria exactamente o contrário do que pretendem dizer os organizadores do evento anunciado nesse cartaz, ou seja, contribuir para o desaparecimento da pobreza, a que o discurso demagógico das ideologias dominates prefere chamar exclusão social. Mas isso é erradicação (do latim, Ex-radicatione [ex-radicare, arrancar pela raiz]), não irradicação, que significaria enraizamento ou difusão, como iluminação, irradiação[ do latim, in-luminatione, in-radiatione ]).
Ou, se quisermos ter um exemplo de vocábulos realmente existentes, com significados opostos: emigração (do latim, ex-migratione) e imigração ( do latim, in-migratione).
Afinal, é ou não é importante saber distinguir na escrita o que na pronúncia nem sempre se distingue?
E saber distinguir, conhecendo as razões, para não se cometerem erros mais graves ainda, como é o de confundir Cruz de Areia ( na pronúncia tadiocional correcta, com a elisão do e da preposição, Cruz d’Areia, ou seja, uma cruz feita de areia), e Cruz da Areia ( correctamente pronunciado, fazendo a crase dos dois aa, num a aberto, Cruz dàreia), que se refere a uma cruz implantada num areal. Como aconteceria, se em vez de areia tivéssemos, por exemplo, pedra: Cruz de Pedra e Cruz da Pedra.
É espantoso que, precisamente quando se fala em diálogo intercultural, se descaracterize deste modo a língua, sem a qual nenhuma cultura subsiste! E se não subsiste, como pode dialogar com as outras?