O CHOQUE DOS IMPERIALISMOS
Quarenta anos depois
Madrid, 20 de Agosto de 1968
Eram os tempos, não sei se bons se maus – afinal tudo depende do ponto de vista – em que o câmbio das moedas e a difernça do custo de vida permitiam aos Portugueses viajar pela Espanha sem grandes rombos no seu orçamento. Mesmo quando, como era o meu caso e o dos meus companheiros, tal orçamento tinha necessariamente de incluir uma permanente austeridade.
Preparávamo-nos para regressar a Portugal, após uns dias de digressão pelo país vizinho, quando, de repente, nos sentimos envolvidos no alvoroço geral, provocado pelas notícias que encabeçavam todos os serviços informativos: as tropas do Pacto de Varsóvia haviam entrado em Praga, impondo ao governo daquele país – nesse tempo República Checa e Eslováquia formavam um único país, a Checoslováquia – que tentava, dizia-se, regressar a um regime democrático, negociações no sentido de respeitar os interesses defendidos por aquele Pacto.
Dubceck, era o nome do Chefe do Governo, certamente recordando o que se passara na Hungria doze anos antes, foi cedendo, até deixar que o seu projecto de liberdade, já então designado por “Primavera de Praga”, ficasse completamente enredado nas malhas que o exército invasor trazia como a mais feroz das armas.
Acontecera o mesmo na Hungria, doze anos antes, ainda que, neste caso, de forma mais sangrenta, talvez pela falta de pragmatismo que caracterizava a genorosidade dos jovens que haviam protagonizado o levantamento de Budapeste.
Já na altura me pareceu que se cometia um grave erro em identificar estas intervenções de um exército estrangeiro em países soberanos com a tirania de certas ideologias: pensou-se apenas no confronto entre dois blocos, nos quais o maniqueismo político dividia o mundo, tratando cada qual de pôr todo o bem do seu lado e consequentemente, todo o mal do outro.
Hoje é mais claro que não era disso que se tratava:
Afinal, se procuramos analisar sem preconceitos, na medida em que tal for possível, o que se tem passado na Europa Central, sobretudo após o desmantelamento do chamado bloco soviético, damo-nos conta de que não estamos perante o choque de qualquer ideologia, mas diante do enfrentamento dos imperialismos, que, ignorando o sofrimento das populações, atacam sempre dizendo, como Roma, desde a queda dos Tarqínios, que o fazem para se defender.
Assim vão os grandes engolindo so pequenos, que só podem sobreviver vendendo-se ao mais forte.
E não estou a pensar só no discurso com que as autoridades russas explicaram a intervenção do seu exército na Geórgia, preciasmente quando se copletavam quarenta anos sobre a sua intervenção na Checoslováquia.
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