DE RATISBONA A CASTELGANDOLFO
- Afinal, tudo isto não passou de uma tempestade num copo de água, dizia-se há dias, em tom professoral, num dos nossos meios de comunicação, a propósito da agitação criada a pretexto de um curtíssimo passo da aula-conferência proferida por Bento XVI na universidade de que fora Vice-Reitor.
Claro que a minha reacção teve de ser, que me perdoem os bons profissionais dessa área de actividade:
- Superficialidade jornalística de jornalistas pouco atentos.
Como pode chamar-se tempestade num copo de água ao que em todos os continentes se disse e se fez contra a liberdade de expressão, que neste caso nem sequer se utilizara para ofender, contrariamente ao que aconteceu, ainda há menos de um ano, noutras instâncias?
Só a ignorância ou a má fé, nesta Europa sem alma, vendida à ideologia alienante do economicismo e dos jogos geo-estratégicos, não deixou ver a quem precisava de manter a lucidez para defender valores inalienáveis da nossa cultura, que o que estava em jogo não era o diálogo inter-religioso, mas a convivência entre os povos, a tolerância, a verdadeira liberdade, que se afunda sempre que a razão não aceita a iluminação da fé, e esta se nega a si mesma, abandonado os ditames da recta razão.
Afinal, o ex-Professor de Ratisbona, sem renunciar à sua condição de bispo de Roma e como tal cabeça da Igreja Universal, quis simplesmente alertar a universidade europeia para a necessidade de restituir à Teologia o lugar que lhe pertence no seio da comunidade científica, de restaurar o diálogo entre a fé e a razão, sem o qual surge necessariamente a violência.
Mas a Europa dos intelectuais não entende ou não quer entender a mensagem do Papa; manipula o seu discurso e, com a colaboração de alguns muçulmanos radicais, feridos de anti-ocidentalismo, agita contra ele o mundo islâmico.
Felizmente que Bento XVI, fazendo jus à inteligência de que o dotou a natureza e ao sentido pastoral que lhe vem de Deus, acabou repetindo aos crentes de Maomé a doutrina que, afinal, eles parecem ter percebido melhor do que os cristãos da Europa.
Tempestade num copo de água?
Claro que não.
Foi, antes, momento privilegiado de fidelidade da Igreja à sua missão, que, por isto ou por aquilo, não acontece sem mártires.
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