sábado, setembro 16, 2006

QUESTÕES DE CONSCIÊNCIA


Não é preciso ser muito versado na história dos povos e das ideias que regem o seu modo de estar no concerto das nações, para perceber que uma cultura, que é o que dá a cada povo a respectiva identidade, só se altera de um momento para o outro, quando intervém a violência e consequente destruição desse povo.
Não é preciso ser muito versado em história; mas é um facto que, sobretudo nas últimas décadas, no Ocidente (Europa e América do norte), os políticos e grande parte dos homens de cultura, não só quando se trata de julgar as nações que não comungam da mesma tradição cultural, mas também no modo de encarar internamente certos valores.
Marcados pela dinâmica da recusa, pensam e agem ainda de forma maniqueia: tomam sistematicamente palavras como liberdade, laicidade (repare-se que não digo laicismo), pluralismo, tolerância, etc., em sentido polémico; ou seja, utilizam-nas quase sempre como arma para atacar quem não pensa como eles.
Não é, pois de admirar que os partidos políticos, mesmo aqueles que se apoiam em ideologias laicistas e ateias, numa incoerência formal de que se envergonhariam se reflectissem um pouco, façam muitas vezes apelo à consciência dos cidadãos.
Inclusivamente para lhes pedirem que, segundo ois ditames da própria consciência, lhes forneçam um quadro jurídico para legislarem, não segundo a consciência dos cidadãos, mas segundo a própria ideologia.
É o que se passa, por exemplo, com questões como o aborto, que eles afirmam a sete pés ser uma questão de consciência, mas sobre a qual querem legislar como se de matéria anódina se tratasse.
Se é um problema de consciência, que não pode ser resolvido senão no foro da consciência, como pode um órgão legislativo pedir aos cidadãos um parecer através do voto, que, além de ser condicionado pela consciência, acabará sempre por provocar a manipulação das consciências?
Não estou a tomar posição nem a dar indicações de voto, embora tenha toda a legitimidade para o fazer, o que, segundo penso, nesta matéria, não é o caso dos partidos e organizações políticas.
Estou só a lamentar, como cidadão europeu do século XXI, que as nossas democracias estejam ainda tão longe da maturidade que, como espero, levará um dia os detentores do poder político a não se ocuparem senão da promoção do bem comum, que é o espaço humano em que cada pessoa pode ser cada vez mais pessoa.
Respeitando as minorias claro; mas nunca transformando as maiorias em minorias marginalizadas.