quarta-feira, novembro 22, 2006

Alavancas


É um pequeno grande livro, como o seu autor, que sempre conheci como um pequeno grande homem.
Dele transcrevo a página seguinte, pela sua actualidade e porque nos dá o tom de toda a obra:
Judas arremessou pelas lajes do templo as 30 moedas por que vendeu o seu Mestre. Escaldavam-lhe as mãos.
Se a justiça mas não exigir, guardarei estas três moedas com que Maria vendeu a sua dignidade.
Pesam-me. Esmagam-me. Queimam-me. Por isso mesmo. Para que não adormeça. Para que não tenha descanso. Enquanto houver no mundo uma irmã minha que para comer tenha de vender corpo, alma e honra.
Enquanto a claridade desta minha Terra estiver eclipsada por vergonhas como esta. Enquanto as quinas da minha Pátria e as velas da Nau Portuguesa andarem emporcalhadas com a lama destas infâmias.
Infâmias. Que a prostituição é a mais repelente, a mais infame das escravaturas.
Permite-me a transcrição. Recorta-a. Rasga-a, se quiseres. Mas não te atrevas a dizer que a Igreja é contra o homem.
«Além disso, são infames as seguintes cosias: tudo o que se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências, tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, com as condições de vida infra-humana, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis.
Todas estas coisas e outras semelhantes, ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, dos os que as padecem injustamente, e ofendem gravemente a honra devida ao Criador.» (Vaticano II: A Igreja e o mundo actual, nº 27)
Se há HOMENS nesta minha Terra. Se há MULHERES nesta minha Pátria, que apreçam. Onde se encontrar uma Maria-Escrava. A serrar grades. A exigir amnistia. Que toda a Maria-Escrava, tenha caído uma, tenha caído milhões de vezes, conserva inalienável o direito de ser livre. A ser Mulher.

(P. Francisco Fonseca Antunes: Alavancas. Gráfica de Coimbra. s/d. pg. 46-48)