CRUZADAS E GUERRA SANTA
Quem não distingue confunde; e como a confusão é o pior inimigo da verdade, quem não distingue corre pelo menos o risco de ser mentiroso.
Este princípio aplica-se a todas as realidades da vida humana: primeiro porque tudo no homem pode ter várias leituras; segundo porque, dependentes como somos do tempo e do espaço, a deslocação de qualquer coordenada, por reduzida que seja, altera o significado dos nossos gestos.
Bastaria a lembrança destas realidades para termos muito cuidado quando nos sentimos tentados a comparar factos separados entre si, não apenas por milhares de queilómetros, mas ainda por muitos séculos de distância.
Nos últimos meses, por razões que não abonam muito a favor da nossa maturidade cultural, apareceu em várias instâncias a tentativa de pôr no mesmo plano as Cruzadas da Iadde Média e a actual Jihad, ou Guerra Santa islâmica.
Antes de prosseguir, gostaria de exprimir a minha recusa a aceitar a legitimidade da guerra, seja ela de que tipo for; aliás, já passarm algumas dezenas de anos que um canonista muito conhecido e insuspeito – sempre foi tido como extremamente conservador – dizia e escrevia que actualmente não é possível justificar, nem sequer a guerra defensiva.
Voltando ao nosso tema:
Em meu entender, bastaria a distância do tempo a que nos encontramos, para se tornar evidente que não falamos da mesma coisa.
Mas a diferença não é criada apenas pelas coordenadas do tempo:
Situemo-nos na Idade Média, mais precisamente nos finais do século XI, pontificado de Urbano II, que, em Clermont-Ferrand, numa hábil conjugação de pressões e interesses, entre os quais se encontravam os dos muçulmanos da Palestina, perseguidos como os cristãos pelos turcos seljúcidas, mobiliza os príncipes cristãos da Europa para uma campanha que culmina na conquista – eles chamaram-lhe libertação – de Jerusalém.
Comecemos por reparar nisto: O cristianismo, que, mesmo assim, não se mobiliza senão na Europa, conta quase mil anos, na altura desta primeira “guerra santa”... chamamos-lhe assim, por comodidade.
Ora, os muçulmanos – agora todos, não apenas os turcos – viviam em guerra santa desde Maomé.
Toda a sua expansão, a partir dos inícios do século VII, se faz em nome de Deus, contra a “impiedade”... desde a Arábia até à Gália (Poitiers, 750).
Jihad Islâmica, neste periodo, era sinónimo de conquista, de guerra aos outros, os “ímpios”, que eram todos os que não aceitavam a fé islâmica.
As Cruzadas, nas quais podemos incluir a luta dos príncipes cristãos pela reconquista da Península Ibérica, constituíam, ao contrário, pelo menos na mente dos seus promotores, uma guerra de libertação.
3 Comments:
Hoje consigo vir cá antes do Migo! Infelizmente, são muitos os exemplos em que as comparações históricas são lidas obliquamente e servem interesses específicos. É como se procurasse na história um precedente que justifique o injustificável.
Eia!
Até me sinto mal! A malta faz correrias para chegar antes de mim como se achassem que era meu intuito primeiro esterear o espaço 'coments'
Por acaso até é (se calhar)!
Não cheguei a tempo.
Quanto à 'posta', faço minhas as palavras do mestre. "Quem não distingue confunde!"
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semelokertes marchimundui
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