sexta-feira, janeiro 05, 2007

DIÁLOGO DE SUJRDO II


Mais preocupados com o comércio da notícia do que com a informação correcta dos seus leitores (no caso dos jornais), dos seus ouvintes (no caso dos emissores de rádio), dos seus espectadores (no caso da televisão), os meios de comunicação social decidiram desta vez procurar elementos de polémica nas intervenções doutrinais da hierarquia católica.
Claro que assim essas intervenções acabam por ter um impacto que não teriam se os pescadores de águas turvas que abundam por aí não se ocupassem tanto de semear a confusão; mesmo que os pastores tivessem cumprido, como no geral cumpriram, o seu dever de iluminar com a recta doutrina o pensamento dos fiéis.
Mas não deixa de ser um triste sintoma que os jornais tenham reduzido, ou tentado reduzir, a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz e as homilias dos bispos portugueses do primeiro dia do ano ao que disseram sobre o aborto.
No caso da mensagem do Papa, atendo-nos aos dois parágrafos transcritos no post anterior, no vasto elenco de atentados contra a paz denunciados com tanta clareza, se tenha visto apenas o aborto e as pesquisas sobre os embriões; com a agravante de isso se referir em tom de rejeição, manipulando o texto de modo a dizer-se que o Papa compara o aborto com o terrorismo.
E, para insistir, pergunta-se aos leitores, desta vez às leitoras, se estão de acordo com tal comparação.
Li num jornal de grande circulação no país a resposta de duas senhoras: uma que defende o sim, no próximo referendo, outra que defende o não.
Tenho pena que ambas as senhoras hajam respondido como se de facto o Papa tivesse feito tal comparação e que, ao menos a segunda, antes de responder que está de acordo, não tivesse feito uma análise correcta do texto.
A primeira, responde ironicamente que sim, que há terrorismo numa lei que castiga a mulher que aborta: por isso defende o sim.
Faltou-lhe apenas dizer três coisas que todos os defensores do sim escondem sistematicamente: primeiro, que há trinta anos que em Portugal nenhuma mulher é levada à prisão por ter abortado. Segundo, que o próximo referendo não pede um sim para acabar com os castigos, mas para tornar legal a destruição, com o dinheiro dos cidadãos, de vidas humanas indefesas, sem que para tal se exija qualquer causa justificativa.
Finalmente, ainda que o Papa não tenha dito isso, nem sequer de modo indirecto, que há terrorismo no aborto é claro para quem conseguir analisá-lo com um mínimo de serenidade. Terrorismo, sim: em primeiro lugar, contra a mulher, que, em mais de noventa por cento dos casos, não abortaria se a ajudassem, como precisa e tem direito; contra a mulher, que será a maior vítima do aborto realizado nela, mesmo quando plenamente consentido. E, mas isto já todos sabem, contra um ser indefeso, violando o mais sagrado e radical dos direitos, que é o dreito de viver, quando se recebeu o dom da vida, e o dador, que é Deus, quer que esse dom se desenvolva.