quinta-feira, janeiro 04, 2007

DIÁLOGO DE SURDOS-I


Diálogo de surdos?

I

Sem querer aumentar o coro de vozes que se erguem por toda a parte contra aquilo que já alguém classificou de prostituição da comunicação social, desejava partilhar com os visitantes deste blogue parte das reflexões que, com imensa dificuldade, sobretudo nos últimos meses, tenho conseguido erguer por entre gritos de revolta, quando me dou conta do péssimo serviço... melhor, do mal que a escravatura idelógica dos meios de comunicação social faz aos seus utentes.
Falemos da mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz:
Lado bom: como já aconteceu com o discurso de despedida da cátedra de Ratisbona, primeiro, depois com a sua viagem à Turquia e respectivos discursos, nunca um texto pontifício foi tão discutido.
Lado mau: talvez como resultado do mesmo – leituras ideológicas são sempre leituras parciais -, oitenta por cento, pelo menos, do que se disse, ocupou-se de uma parte mínima, que, apesar da sua importância, fora do seu contexto pode se manipulada em todos os sentidos.
Aliás, em Portugal, os jornais fizeram o mesmo às homilias dos bispos que no dia um de Janeiro se referiram ao tema do aborto, integrando-o no texto pontifício.
O Papa, que quer falar da Pessoa humana, coração da paz, diz a certa altura:

4. O dever de respeitar a dignidade de cada ser humano, em cuja natureza se reflecte a imagem do Criador, tem como consequência que não se possa dispor da pessoa arbitrariamente. Quem detém maior poder político, tecnológico, económico, não pode aproveitar disso para violar os direitos dos outros menos favorecidos. De facto, é sobre o respeito dos direitos de todos que se baseia a paz. Ciente disso, a Igreja faz-se paladina dos direitos fundamentais de cada pessoa. De modo particular, ela reivindica o respeito da vida e da liberdade religiosa de cada um. O respeito do direito à vida em todas as suas fases estabelece um ponto firme de importância decisiva: a vida é um dom de que o sujeito não tem completa disponibilidade. Igualmente, a afirmação do direito à liberdade religiosa põe o ser humano em relação com um Princípio transcendente que o furta ao arbítrio do homem. O direito à vida e à livre expressão da própria fé em Deus não está nas mãos do homem. A paz necessita que se estabeleça uma clara fronteira entre o que é disponível e o que não o é: assim se evitarão intromissões inaceitáveis naquele património de valores que é próprio do homem enquanto tal.

5. Quanto ao direito à vida, cabe denunciar o destroço de que é objecto na nossa sociedade: junto às vítimas dos conflitos armados, do terrorismo e das mais diversas formas de violência, temos as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia. Como não ver nisto tudo um atentado à paz? O aborto e as pesquisas sobre os embriões constituem a negação directa da atitude de acolhimento do outro que é indispensável para se estabelecerem relações de paz estáveis. Mais: no que diz respeito à livre manifestação da própria fé, outro sintoma preocupante de ausência de paz no mundo é representado pelas dificuldades que frequentemente tanto os cristãos como os adeptos de outras religiões encontram para professar pública e livremente as próprias convicções religiosas. No caso particular dos cristãos, devo ressaltar com tristeza que por vezes não se limitam a criar-lhes impedimentos; em alguns Estados são mesmo perseguidos, tendo-se registado ainda recentemente episódios de atroz violência. Existem regimes que impõem a todos uma única religião, enquanto regimes indiferentes alimentam, não uma perseguição violenta, mas um sistemático desprezo cultural quanto às crenças religiosas. Em todo o caso, não se respeita um direito humano fundamental, com graves repercussões sobre a convivência pacífica, o que não deixa de promover uma mentalidade e uma cultura negativas para a paz.
Não quero alongar demasiado este post, nem agravar, com comentários parciais, o facto de ter retirado o texto do seu contexto.
Mas gostaria de convidar os meus visitantes a ler estes dois números, que estão no centro da mensagem do Papa, como um todo, não se fixando em partes isoladas, porque é no conjunto que adquirem todo o signifcado.
Tome-se como frase síntese o segundo período da primeira parte: De facto, é sobre o respeito dos direitso de todos qu se baseia a paz.