segunda-feira, janeiro 22, 2007

DIÁLOGO DE SURDOS III


DIÁLOGO DE SURDOS III

Costumamos falar de diálogo de surdos quando os que discutem – pessoas ou instituições – partem para a discussão, não para se entenderem, mas para imporem os seus pontos de vista, cada qual com o intuito de vencer o outro.
Assim que para nós, quando dizemos que alguém entra num diálogo de surdos, a pessoa ou entidade em questão já está classificada: consciente ou inconscientemente, rotulamo-la de intolerante, para não dizer hipócrita.
Mas há outro conceito de diálogo de surdos que seria bom não esquecer, até porquer qualquer de nós, com a melhor das intenções, pode entrar em tal quadro e perder, não só o diálogo, mas, com os fundamentos dele, o entendimento que ele poderia gerar.
Repare-se que falo de entendimento, condição essencial para a paz e a convivência, não falo de acordo, que, de facto, só é necessário quando queremos empreender algo em comum.
Quando, por exemplo, duas pessoas discutem sobre determinado tema empregando termos que dependem de mundos culturais diferentes, se não têm em conta esse facto, correm o risco de não se entenderem na defesa do mesmo ponto de vista.
A história cultural do ocidente está recheada de exemplos, que seria bom não esquecer para não se repetirem os erros do passado, nomeadamente no diálogo entre as igrejas.
Outro exemplo: quem já pensou que falar de democracia, como a entendemos hoje, sobretudo numa cultura de raiz cristã, não tem qualquer sentido para milhões de habitantes do globo?
E há ainda outra deficiência que pode transformar as nossas discussões públicas em diálogos de surdos:
Quando, perante um problema que pode ser encarado sobre diferentes perspectivas, cada um adopta a sua, não se dando conta de como isso relativiza os argumentos que uiliza contra o seu interlocutor.
O ideal seria que se começasse por identificar a perspectiva e que serenamente se chegasse a acordo sobre qual é a mais abrangente... e só depois se discutiriam as soluções propostas.
Veja-se, por exemplo, o que acontece com as discussões sobre o aborto (chamo-lhe aborto, porque uma das mais graves violações das regars do diálogo está precisamen nas alterações da linguagem destinadas a alterar subreticiamente o quadro psicológico do racicínio do nosso interlocutor):
Como podem entender-se duas pessoas que discutem sobre o aborto, uma irredutivelmente situada do lado de quem quer, não importa a razão, acabar com uma gravidez, enquanto a outra não vê senão a vida que o aborto destrói?
Seria tão mais fecunda uma discussão que começasse por analisar a vida humana como aquilo que ela é!..
Não se trata de chegar a acordo: mas de travar uma discussão civilizada, em que as pessoas se entendem, ainda que fique cada qual na sua posição; sem amargura nem agressõse recíprocas, porque cada qual pode dizer o que pensava.
Claro, isto pode aprecer uma utopia.
Mas não vejo outro modo de esclarecer a verdade.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nada a crescentar... a não ser esta convicção minha que vai crescendo à medida que vou assistindo ao argumentário nesta discussão: começam a existir mundos muitos diferenciados em que se torna impossível o diálogo e não antevejo solução. Há quem não queira ver o óbvio. (E o problema é que o óbvio parece, já não existir!!!)

Mando abraço e já agora faço publiciadde a um espaço que alguns de nós criámos:
http://vidadom.blogspot.com/

1:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

esperamos comentários seus!!!!

1:27 da tarde  
Blogger PA said...

Estou com o Abilio, a sua presença em http://vidadom.blogspot.com/ viria mesmo a calhar. E este tema cai que nem ginjas.

(Alíás, acho que lhe enviei, por e-mail, um convite para integrar o grupo)

1:38 da tarde  
Blogger rasgos de ser said...

Também eu me uno ao Abílio e ao PA no convite a visitar e opinar no nosso blog. Parece-me que a discussão nele existente é extremanente rica e, Abílio, o nosso blog está a dar frutos, há quem tenha ido lá e tenha ficado surpreendido com a informação e de "claro que sim" está agora no "talvez não, porque afinal...". Não estou a dizer que mudamos mentalidades, mas acho que a nossa missão de esclarecer em vez de criticar está a ajudar e isso só por si vale a pena.
Para o A.Pascoal, sou a Lena mama da Maria, agora lena renas (assinatura blog. Em breve verão o Paulo a assinar também alguns textos)

12:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo em absoluto com o seu ponto de vista. E o ppior de tudo é que cada vez mais achamos que somos donos da verdade, diria mesmo Mestres, e não temos nada a acrescentar ou a alterar ao nosso ponto de vista. Quanto ao problema do aborto é mesmo um diálogo de surdos. A começar pela pergunta do referendo que assim colocada pode mesmo deixar-nos apreensivos quando formos votar.

3:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Anónima não senhor, sou a Filomena mas não há meio de acertar com o local da identificação...

3:43 da tarde  
Blogger Augusto Ascenso Pascoal said...

Caros amigos,
só hoje - 30 de Janeiro - voltei a abrir este blogue, embora tenha uma série de posts em projecto... O probelma é o tempo. Mas queria dizer que fiquei particularmente sensibilizado com este coro, que, bem vistas as coisas, é sobretudo um sinal de amizade, que muito me comove. Já sabia do vosso areópago e confesso que, quando me informaram da sua criação, fiquei a pensar que não tinha bem lugar no meio de tanta juventude. Visitei-o e, sem surpresa, porque vos conheço há muito, tomei um banho de alegria e optimismo; o que,aliás, já disse num breve comentário.
Agora vêm os convites: fico lisongeado e vou tentar dizer alguma coisa; mas vocês estão bem e não precisam nada das minhas reflexões.
Para a Filomena:
Aqui vão os meus blogues:
a) Para temas mais íntimos: Resistência: http://augaspas.blogspot.com
b) Para discussão: http://pecoapalavra2.blogspot.com
Um garnde abraço para todos
A. Pascoal
A. Pascoal

9:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Aprendi muito

11:46 da manhã  

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