terça-feira, março 13, 2007

SEMEADORES DE TEMPSemeadores de tempestadesESTADES

Vejam lá se não tenho razão para me indignar!
Esta manhã, quando pus em andamento o carro, a caminho do local de trabalho, fui surpreendido por uma voz que, em vez de me anunciar a música que buscava como subsídio para a oração matinal, recordava aos ouvintes que hoje seria publicado um documento do Papa sobre a Eucaristia que contrariava muitas tendências actuais da liturgia. E apontava como parte mais polémica, a insistência no uso do latim, afrontando directamente o Vaticano II, que decidiu o uso das línguas vernáculas na liturgia católica (em itálico as palavras do referido locutor).

Antes de comentar, o que farei no próximo “post”, ofereço a algum visitante interessado, a parte documental a que se referiu o ilustrado locutor da nossa – porque eles dizem que é de todos nós – Rádio.

Primeiro, do Papa:

42. Na arte da celebração, ocupa lugar de destaque o canto litúrgico.(126) Com razão afirma Santo Agostinho, num famoso sermão: « O homem novo conhece o cântico novo. O cântico é uma manifestação de alegria e, se considerarmos melhor, um sinal de amor ».(127) O povo de Deus, reunido para a celebração, canta os louvores de Deus. Na sua história bimilenária, a Igreja criou, e continua a criar, música e cânticos que constituem um património de fé e amor que não se deve perder. Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de géneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; (128) consequentemente, tudo — no texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos.(129) Enfim, embora tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente louváveis tradições, desejo — como foi pedido pelos padres sinodais — que se valorize adequadamente o canto gregoriano,(130) como canto próprio da liturgia romana.(131)
(...)
62. O que acabo de afirmar não deve, porém, ofuscar o valor destas grandes liturgias; penso neste momento, em particular, às celebrações que têm lugar durante encontros internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio Vaticano II: (182) exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas (183) da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia.(184)
(Bento XVI: Sacramentum caritatis)

Agora, do Concílio:

36. § 1. Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular.
§ 2. Dado, porém, que não raramente o uso da língua vulgar pode revestir-se de grande utilidade para o povo, quer na administração dos sacramentos, quer em outras partes da Liturgia, poderá conceder-se à língua vernácula lugar mais amplo, especialmente nas leituras e admonições, em algumas orações e cantos, segundo as normas estabelecidas para cada caso nos capítulos seguintes.
§ 3. Observando estas normas, pertence à competente autoridade eclesiástica territorial, a que se refere o artigo 22 § 2, consultados, se for o caso, os Bispos das regiões limítrofes da mesma língua, decidir acerca do uso e extensão da língua vernácula. Tais decisões deverão ser aprovadas ou confirmadas pela Sé Apostólica.
§ 4. A tradução do texto latino em língua vulgar para uso na Liturgia, deve ser aprovada pela autoridade eclesiástica territorial competente, acima mencionada.
(Vaticano II: Sacrosanctum concilium)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O problema é que oje em dia não se sabe ler nem interpretar correcatmente o que se lê. E não é só nos primeiros anos de escola... embora seja aí que começa. Com o facilitismo que se tem dado ao ensino e a falta de exigênca e rigor a todos os níveis, chega-se à Universidade (nem todos, claro...) sem saber interpretar sequer uma pergunta de um teste, quanto mais um documento papal. Depis há os que querem semear "tempestades"...

8:44 da manhã  

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