quarta-feira, agosto 22, 2007

A BANALIZAÇÃO DO HORROR






Era ainda muito jovem quando comecei a tomar contacto com os relatos do que se passava nos campos de concentração organizados com todos os requintes permitidos pela tecnologia do tempo. E faziam-me tremer tais relatos.
Um pouco mais tarde vieram as imagens: retratos de arquivo, em alguns casos, cenas de ficção noutros. E o horrror era maior: não percebia como era possível os homens fazerem tanto mal uns aos outros.
Depois chegaram as descrições do que se passava nos campos de concentração soviéticos: a respeito do regime que os produzira ouvi um dia a certo realizador cinematográfico, que era a própria encarnação do mal. E quando lhe perguntei se tal encarnação não seria antes o nazismo, ele, que experimentara na carne os males dos dois, respondeu sem hesitar. Não: porque enquanto o nazismo se diazia abertamente assente no ódio a tudo o que não fossem os valores da raça, o marxismo sempre se apresentou como a ideologia da libertação do homem.
Fiquei em silêncio; mas fui dizendo a mim mesmo que não queria escolher entre nenhum desses sistemas: qualquer deles, ao negar a transcendência do nosso destino, abria a porta a todos os horrores que algum dia se revelassem úteis ao egoismo humano.
Vêm-me à mente estas ideias, enquanto ouço ou leio o que se diz na grande comunicação social a propósito dos números relativos à prática do aborto em Portugal, no primeiro mês de vigência da nova lei.
Parece que a maioria dos abortistas, autoridades sanitárias incluídas, ficaram preocupados com tão reduzido número de abortos. Até se apressaram a tranquilizar alguém que estivesse com reservas, temendo os efeitos negativos dos métodos mais praticados nas clínicas “autorizadas”: Que não, senhor! Aborto cirúrgico ou medicamenetoso, tem os mesmo riscos.
Neste momento não venho comentar o que talvez nem sequer mereça comentários.
Peço a palavra apenas para dizer que me causa náuseas esta linguagem: abortos provocados, com o meu dinheiro, um ou mil, tanto faz: sou criminoso na mesma.
Mas, o que me parece mais grave, é que todo este discurso, quaisquer que sejam as máscaras atrás das quais se esconda, acaba necessariamente banalizando o horror.
Aquele horror que, quando era mais novo, ma causavam as imagens dos campos de concentração, gulags nazis e soviéticos.