sexta-feira, novembro 09, 2007

FALTA DE VERGONHA


O meu ponto de vista

O desmantelamento do império turco, após a primeira guerra mundial, como aconteceu com outros desmantelamentos, noutras áreas do globo, e já tinha acontecido na célebre conferência de Berlim, que dividira a África entre os colonizadores europeus, sem a menor consideração pelos povos, este desmantelamento, pelo modo como se fez e pelas suas consequências, é um bom exemplo de como não há nenhuma paz que resista à hipocrisia dos negociadores, sejam eles quais forem.
E o pior é que os detentores do poder parecem não ter aprendido nada com os acontecimentos, que só não forçam a opinião pública internacional porque esses acontecimentos são permanentemente distorcidos por quem manipula as agências de informação.
E, no entanto, há gestos de uma hipocrisia tão evidente, que só uma cegueira colectiva explica que todos fiquemos calados perante elas.
A sorte do povo curdo tem uma dimensão tão trágica, que, no mundo moderno, só a do povo palestiano se lhe pode comparar... isto, se deixarmos de lado os arménios massacrados por ordem expressa do “santo” fundador da Turquia moderna, essa que quer agora fazer parte da União Europeia.
Mas fixemo-nos, por agora, no povo curdo: unido por uma língua aparentada com a nossa e uma cultura com mais de 3.000 anos, foi resistindo, ao longo dos séculos, às pressões dos grandes impérios vizinhos, apesar da sitemática islamização a que foi sujeito no século VII da nssa era.
No entanto, pode dizer-se que o seu calvário começa em 1639, ano em que o Curdistão é dividido entre os impérios Persa e Otomano.
A partir daqui, nem a sua especificidade étnica e cultural, nem a bravura com que se bateu por uma autonomai a todos os títulos legítima, conseguiram reduzir o drama deste povo, que, graças aos jogos oportunistas dos vencedores da primeira Grande Guerra, ficou dividido, não já por dois impérios, mas por quatro países: Turquia, Irão, Iraque e Síria.
Como seria de esperar, os Curdos não se resignam a esta situação: por isso se consideram em estado permanente de guerra e, logo que vislumbram uma oportunidade para conseguir aliviar um pouco a tirania que os esmaga, levantam a cabeça, pegam em armas.
Foi o que aconteceu agora, no norte do Iraque e sul da Turquia.
É evidente que a guerra não será o melhor caminho, até porque na guerra vence quem tem mais força, não quem tem razão.
Mas será que se quer de facto a paz, quando esta se negoceia sem a parte verdadeiramente interessada e recusando-lhe todos os direitos?
Turquia, Irão e Iraque, com o apoio dos EUA e da UE, discutem a paz no Curdistão, ignorando pura e simplesmente povo curdo?
Pelo amor de Deus, tenhamos um pouco de vergonha!