peço a palavra

terça-feira, março 24, 2009

IR ALÉM DA CHINELA


A Calúnia de Apeles

Do grande pintor grego não nos ficaram senão referências aos seus quadros, que terão maravilhado a Grécia do século IV.
Os pintores da Renascença, como fizeram com outras figuras da Antiguidade, serviram-se dessas referências para alimentarem a imaginação e obterem matéria para as suas criações artísticas.
Foi o caso de Botticelli, que nos deixou esta “Calúnia de Apeles”.
Não é, no entanto, a calúnia propriamente dita que nos interessa neste momento, ainda que se fale de Bento XVI, que, vendo bem as coisas, tem sido, nos últimos meses, vítima de manipulações tais, que dificilmente se isentam da acusação de autênticas calúnias.
O que nos interessa de momento é o nome de Apeles, que está ligado a um acontecimento, real ou imaginário, que acbou por se tornar proverbial: o grande pintor, que costumava pedir a diferentes categorias de pessoas, a apreciação dos seus quadros, teve um dia de cortar o comentário do seu sapateiro, muito interessado em apontar defeitos no físico de algum dos seus retratados: Não vá o sapateiro além da chinela!
Ainda hoje se diz isto a quem perde os limites das suas competências e se mete em comentários arriscados sobre matérias que estão fora do âmbito dessas competências.
Apeles, com o atrevimento do seu sapateiro, veio-me ao pensamento há dias, quando ouvi um conhecido comentador da nossa televisão, que, aliás, aprecio quando se ocupa de assuntos políticos, dizer que o Papa se tinha esquecido de que a Igreja Católica aceita o princípio do mal menor.
É realmente demasiado: afirmar assim, com toda a segurança, que o Papa anda tão distraído que nem sequer tem em conta a doutria de cuja justeza é o último garante!
Foi muito mais prudente o Primeiro Ministro francês, quando a respeito do mesmo assunto, ainda que erradamente reduzindo a questão do preservativo a um problema meramente técnico, diz que o Papa é um teólogo e como tal não tem por que se pronunciar sobre o assunto.
Erra, mas não pretende dar lições de teologia moral ao Papa.
O sapateiro, ainda que alargando indevidamente o alcance da chinela, não a ultrapassou. Foi muito mais atrevido o nosso comentador.