peço a palavra

sábado, dezembro 31, 2005

O CAMAURO E O PAI NATAL



Na madrugada do último dia do ano, sem tempo para buscar uma imagem do saudoso Papa João - o XXIII (1958-1963), não o XXII, que também era citado assim pelos seus contemporâneos (1316-1334), - sem tempo para buscar uma imagem mais visível da figura do bispo de Roma, que, nos domingos da Quaresma de 1961 e 1962, acompanhávamos na visita pastoral que à tarde fazia às paróquias da sua diocese. Essas visitas reatavam uma tradição interrompida há mais de um século e que havia de ser seguida pelos seus sucessores imediatos: O papa João XXIII, que sistematicamente quebrava as ergras do protocolo, para estar mais perto dos seus diocesanos, havia também retomado o costume de usar, nos dias frios do inverno romano, o barretinho protector que pertencera à indumentária da grande maioria dos papas, desde a segunda metade do XII até finais do século XVIII, com Clemente XIV(1769-1774).
Constituíu assim, para a minha memória de antigo residente na Ciadde Eterna, um reconfortante suplemento emocional, o aparecimento de Bento XVI, nesta quadra natalícia, envergando sem complexos um protector contra o frio que me traz inevitavelmente à memória o sorriso de João XXIII. O pior foi quando a comunicação social começou a dizer que o Papa aparecera vestido de Pai Natal. Não porque fosse mau que tivesse acontecido. Não. Isso, apesar de estranho, sobretudo tendo em vista que Bento XVI vem do mundo onde a maçonaria do século XIX foi buscar a figura do Pai Natal, para evitar as referências ao Menino Deus, que era quem dava a São Nicoalu os mimos que distribuía pelas crianças; estranho ainda, porque dias antes o próprio Bento XVI falara do valor pedagógico do Presépio; isso, apesar de estranho, não teria, em meu entender, mal nenhum.
O desgosto que me assaltou veio da verificação de quão fundo se cavou já o abismo que separa os europeus das suas raizes culturais: A mesma ideologia que transformou São Nicolau, no Pai Natal - e que, perdida também essa refrência, inventou há pouco a "Mãe Natal" - esqueceu por completo a tradição romana do CAMAURO, afinal importado da Grécia, com o respectivo nome (Kamelauchion<camelaucum), esquecendo que talvez não seja um mero acaso, Bento XVI, cujas preocupações ecuménicas são conhecidas, retomar o costume de João XXIII.
É uma pena, que nos tornemos cada vez menos capazes de perceber a nossa própria identidade!.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

ABERTURA


Em jeito de editorial:
Um novo blog? Sim e não: Peço a palavra é, de ordinário, fórmula delicada, quiçá a tender para o tímido, de entrar numa discussão. (Do ponto de vista do seu étimo, discussão, antes de significar polémica, exprimia quase o mesmo que análise, distriça e comparação de ideias ou palavras...)
Olho o horizante aproveitando a generosidade dos arcos em ogiva com que o arquitecto quis encher de luz a grande sala do palácio medieval: a cidade fica em baixo, contorcendo-se na estreiteza dos terrenos conquistados ao Lis, na tristeza do urbanismo selvagem dos últimos dois séculos. Memórias da Rainha Santa e do Rei Poeta, uma outro brilhante ilustração de como é possível conseguir, para o bem da grei, óptimos frutos do enlace amoroso quer da santidade quer da poesia, com o do exercício do poder político.
Este blog, que, graças às habilidades do Zé, se meteu na pista do primeiro "peço a palavra", bloqueado por não sei que espécie de amuo, estará habitualmente mais voltado para o exterior, os longes do horizonte que a vista abarca e fazem estremecer a alma do cidadão.
Deixa-se para RESISTÊNCIA o que possa ser desejo de partilha: a contemplação do mundo, não já através dos janelões da sala, mas afastando as cortinas que escondem tantas vezes os horiozontes da alma.Não é minha intenção cultivar a polémica, embora reconheça que, em abono do sangue portugês que me corre nasd veias, ela me tenta com certa frequência.
Mas é mais gratificante dispender energias, procurando enriquecer os confrontos verbais puxando pela vrdade que frequentemente se perde no calor das discussões. Tenho, evidentemente bons mestres nas margens do Lis.
Quem sabe se não nos ocuparemos de alguns deles... como quem quer fornecer aos mais novos, algum material.
Um grande abraço para todos os que me visitarem.