peço a palavra

sábado, dezembro 08, 2007

O LIXO E AS TAXAS


Mudei de opinião

Ao pincípio da tarde, na conclusão de mais um passeio higiénico, subo a Avenida em sentido oposto ao que seguira cerca de uma hora antes.
Em baixo, do lado direito de quem sobe, a azáfama da desmontagem das últmas tendas de feirantes.
Um olhar rápido, porque me provoca náuseas aquele espectáculo de caixas e caixinhas pelo chão, à mistura com plásticos de todas as cores e feitios, juntmente com outras porcarias... caixotes do lixo esventrados, numa pornografia sem limites.
Lembrei-me da anunciada e logo negada taxa ecológica sobre os sacos de plástico.
Confesso que fui contra, até porque me pareceu tratar-se de mais um sintoma da fome insaciável de taxas, por parte de um governo esquecido da mais antiga e mais eficaz via de redução de um défice: cortar nas despesas.
Afinal não era! Talvez tenha sido por isso que o governo desistiu da ideia.
Também não sei se essa taxa iria acabar com espectáculos deste género.
Mas é urgente fazer-se qualquer coisa: porque nos países civilizados, que ainda há alguns nesta Europa velha e doente, as feiras, ou mercados de rua, deixam limpos os espaços que ocuparam, onde, poucas horas depois de terminarem, não se vê o menor sinal do que ali se passou.
Que faltará aos Portugueses para perceberem que a casa de todos exige redobrados cuidados de cada um?

quinta-feira, dezembro 06, 2007

CAÇA ÀS BRUXAS


Os inimigos do Papa e da Igreja não desarmam, como sempre. Com outros métodos, mas como sempre.

Retiro do discurso de Bento XVI aos participantes no “Forum” das Organizações Não Governamentais de inspiração católica, o seguinte passo, que traduzo livremente, procurando, no entanto, ser o mais possível fiel ao pensamento do Papa:

“... com frequência o debate internacional surge marcado por uma lógica relativista que parece reter como única garantia de uma convivência pacífica entre os povos a negação da cidadania à verdade sobre o homem e a sua dignidade, assim como à possibilidade de um agir ético fundado no reconhecimento da lei moral natural. Chega assim, de facto, a impor-se uma concepção do direito e da política, onde o consenso entre os Estados, obtido por vezes em função de interesses limitados, ou manipulado por pressões ideológicas, se transfomaria na única e última fonte do direito internacional. Os frutos amargos de tal lógica relativista são infelizmente evidentes: pense-se, por exemplo, na tentativa de considerar direitos do homem as exigências de certos estilos de vida egoista, ou então o desinteresse pelas necessidades económicas e sociais dos povos mais débeis, ou o desprezo do direito humanitário e uma defesa selectiva dos direitos humanos. Auguro que o estudo e o confronto destes dias permitam identificar modos eficazes e concretos para fazer aceitar a nível internacional os ensinamentos da doutrina social da Igreja. Em tal sentido, encorajo-vos a opôr ao relativismo a grande criatividade da verdade acerca da dignidade inata do homem e dos direitos que daí derivam. Essa criatividade permitirá dar uma resposta mais adequada aos múltiplos desafios do actual debate internacional; sobretudo permitirá a promoção de iniciativas concretas, que serão vividas em espírito de comunhão e liberdade.”
Olhares vesgos de ecrtos jornalistas viram nestas palavras de Bento XVI um ataque à ONU e instituições que a integram. E desse imaginário ataque se fizeram de tal modo eco, que o próprio Secretário Geral da referida Organização achou necessário vir a terreiro defendê-la; o que, por sua vez, provocou um esclarecimento por parte do porta-voz da Santa Sé.
Se quisermos ler sem paixão o discurso do Papa, tendo presente a quem se dirige primariamente, damo-nos bem conta de que ele não só não ataca nenhuma organização, como, ao contrário, repetindo os ensinamentos da sua primeira encíclica, recorda aos católicos o dever de trabalharem com toda a gente de boa vontade, sem, no entanto, renunciarem ao que lhes é específico, nomeadamente, o serviço ao homem na sua integridade. Por isso denuncia, como não podia deixar de fazer, as graves distorsões de que tal integridade é vítima, por razões ideológicas.
Mas quem, ou o que é que permite aos jornalistas dizerem que isto constitui um ataque à ONU? A não ser que eles próprios estejam convencidos de que tais distorsões são da sua responsabilidade.
Por este andar, acabaremos todos num regime de suspeição em que nunca mais será possível exprimir senão as verdades parciais que servem a quem mercadeja ideias, coisas e pessoas, na praça da volúvel opinião pública.
O que nos vale é que a Igreja não se calará nunca.