peço a palavra

sábado, novembro 24, 2007

MAIS DESINFORMAÇÃO


À porta fechada?
Então, não querem saber que o Papa agora faz consistórios à porta fechada?
À porta fechada? Mas, à porta fechada, como?
Foi assim que há dias uma estação de rádio, que faz questão de se afirmar como “emissora católica portuguesa”, definiu o consistório convocado pelo Papa para a nomeação de novos cardeais; consistório que, segundo a actual terminologia do Código de Direito Canónico, tem a designação de Consistório Ordinário (Código de 1917, “Consistório Secreto”, ou seja, não público, mas que poderia, a partir de certo momento, se o Papa o determinasse, tornar-se público).
Certamente algumas agências de informação cruzaram a linguagem do Código de 1917 com a do Código de 1983. Que isso aconteça a quem não está habituado à terminologia do direito canónico, é compreensível e, digamos, mesmo desculpável.
O que já não é compreensível e muito menos desculpável é que os jornalistas substituam essa linguagem por outra cujo conteúdo engana necessariamente a grande maioria dos seus leitorse e ouvintes.
Se queriam dar a notícia desta reunião magna do Colégio Cardinalício, sem induzirem as pessoas em erro, deviam ter lido o Cânone 353 (CIC 1983), com os respectivos comentários – seria questão de poucos minutos – para saberem do que estavam a falar e assim fazerem opções correctas, no domínio da linguagem.
Francamente, esta teimosia em querer informar o público ignorando por completo a matéria da informação, começa a tornar-se revoltante, porque é uma das formas de servir a promoção da ignorância colectiva.
Doença que mina inexoravelmente qualquer identidade.

quinta-feira, novembro 22, 2007

IGNORÂNCIA E GROSSERIA

Ignorância e grosseria

Inspira-me estas notas a tristeza que me fica quando leio textos como o que Migeul de Sousa Tavares publica no último número de Expresso, a propósito da “Visita ad Limina Apostolorum” por parte dos bispos portugueses.
Começo por confessar sinceramente que, apesar de ter vindo progressivamente a perder a consideração que tinha pelo autor, comentador geralmente mais sobranceiro do que competente, nunca esperei que chegasse tão baixo: Neste caso fico com a impressão de que procurou preencher o vazio que lhe deixa a ignorância total do assunto que aborda, com a grosseria da linguagem, que só se explica pelo orgulho de quem sabe que não corre o risco de, aí onde se move, encontrar alguém que não seja pelo menos tão ignorante como ele.
Que o Dr Tavares não saiba o significado desta ida dos bispos a Roma, passe. Até alguns jornalistas católicos, dos quais esperávamos um maior sentido de responsabilidade, ignoram que esta “Visita”, de que encontramos o primeiro exemplo em São Paulo (cf vg Gálatas: 2,1-2), foi regulamentada por Sisto V (20.12.1585), Bento XIV (23.11.1740), funcionando actualmente segundo normas estabelecidas nos pontificados de Pio X (31.12.1909) e Paulo VI (29.06.1975).
Não espanta tal ignorância.
Mas o que deviam saber todos os que se põem a falar do assunto, incluindo Miguel de Sousa Tavares, era que esta visita quinquenal é sempre precedida de um relatório, também quinquenal, no qual os bispos fazem o ponto da situação relativamente ao estado das respectivas dioceses, e que é a partir do conteúdo desses relatórios que o Papa faz as suas recomendações. Recomendações que se destinam, note-se bem, não apenas aos bispos, mas a toda a Igreja por eles representada.
Comparando o conteúdo real do discurso do Papa com o que dele se disse na chamada grande comunicação, o menos que podemos sentir é espanto: como é possível que alguém com um mínimo de seriedade se ponha a comentar, com tão grande à vontade, assuntos para cuja interpretação não tem nem procura ter a chave necessária?
Quanto ao texto do Dr Sousa Tavares, mais do que espanto, sentimos nojo e revolta: nojo, porque é evidente escreve dominado por uma paixão indigna de quem ama a verdade; revolta, porque é evidente que não leu o discurso do Papa... ou se o leu, faz de todos nós estúpidos, porque o texto de que fala pura e simplesmente não existe.

sexta-feira, novembro 09, 2007

FALTA DE VERGONHA


O meu ponto de vista

O desmantelamento do império turco, após a primeira guerra mundial, como aconteceu com outros desmantelamentos, noutras áreas do globo, e já tinha acontecido na célebre conferência de Berlim, que dividira a África entre os colonizadores europeus, sem a menor consideração pelos povos, este desmantelamento, pelo modo como se fez e pelas suas consequências, é um bom exemplo de como não há nenhuma paz que resista à hipocrisia dos negociadores, sejam eles quais forem.
E o pior é que os detentores do poder parecem não ter aprendido nada com os acontecimentos, que só não forçam a opinião pública internacional porque esses acontecimentos são permanentemente distorcidos por quem manipula as agências de informação.
E, no entanto, há gestos de uma hipocrisia tão evidente, que só uma cegueira colectiva explica que todos fiquemos calados perante elas.
A sorte do povo curdo tem uma dimensão tão trágica, que, no mundo moderno, só a do povo palestiano se lhe pode comparar... isto, se deixarmos de lado os arménios massacrados por ordem expressa do “santo” fundador da Turquia moderna, essa que quer agora fazer parte da União Europeia.
Mas fixemo-nos, por agora, no povo curdo: unido por uma língua aparentada com a nossa e uma cultura com mais de 3.000 anos, foi resistindo, ao longo dos séculos, às pressões dos grandes impérios vizinhos, apesar da sitemática islamização a que foi sujeito no século VII da nssa era.
No entanto, pode dizer-se que o seu calvário começa em 1639, ano em que o Curdistão é dividido entre os impérios Persa e Otomano.
A partir daqui, nem a sua especificidade étnica e cultural, nem a bravura com que se bateu por uma autonomai a todos os títulos legítima, conseguiram reduzir o drama deste povo, que, graças aos jogos oportunistas dos vencedores da primeira Grande Guerra, ficou dividido, não já por dois impérios, mas por quatro países: Turquia, Irão, Iraque e Síria.
Como seria de esperar, os Curdos não se resignam a esta situação: por isso se consideram em estado permanente de guerra e, logo que vislumbram uma oportunidade para conseguir aliviar um pouco a tirania que os esmaga, levantam a cabeça, pegam em armas.
Foi o que aconteceu agora, no norte do Iraque e sul da Turquia.
É evidente que a guerra não será o melhor caminho, até porque na guerra vence quem tem mais força, não quem tem razão.
Mas será que se quer de facto a paz, quando esta se negoceia sem a parte verdadeiramente interessada e recusando-lhe todos os direitos?
Turquia, Irão e Iraque, com o apoio dos EUA e da UE, discutem a paz no Curdistão, ignorando pura e simplesmente povo curdo?
Pelo amor de Deus, tenhamos um pouco de vergonha!