peço a palavra

quarta-feira, agosto 20, 2008

O CHOQUE DOS IMPERIALISMOS




AS IMAGENS QUE FALTARAM EM "QUARENTA ANOS DEPOIS"

O CHOQUE DOS IMPERIALISMOS





Quarenta anos depois

Madrid, 20 de Agosto de 1968

Eram os tempos, não sei se bons se maus – afinal tudo depende do ponto de vista – em que o câmbio das moedas e a difernça do custo de vida permitiam aos Portugueses viajar pela Espanha sem grandes rombos no seu orçamento. Mesmo quando, como era o meu caso e o dos meus companheiros, tal orçamento tinha necessariamente de incluir uma permanente austeridade.
Preparávamo-nos para regressar a Portugal, após uns dias de digressão pelo país vizinho, quando, de repente, nos sentimos envolvidos no alvoroço geral, provocado pelas notícias que encabeçavam todos os serviços informativos: as tropas do Pacto de Varsóvia haviam entrado em Praga, impondo ao governo daquele país – nesse tempo República Checa e Eslováquia formavam um único país, a Checoslováquia – que tentava, dizia-se, regressar a um regime democrático, negociações no sentido de respeitar os interesses defendidos por aquele Pacto.
Dubceck, era o nome do Chefe do Governo, certamente recordando o que se passara na Hungria doze anos antes, foi cedendo, até deixar que o seu projecto de liberdade, já então designado por “Primavera de Praga”, ficasse completamente enredado nas malhas que o exército invasor trazia como a mais feroz das armas.
Acontecera o mesmo na Hungria, doze anos antes, ainda que, neste caso, de forma mais sangrenta, talvez pela falta de pragmatismo que caracterizava a genorosidade dos jovens que haviam protagonizado o levantamento de Budapeste.
Já na altura me pareceu que se cometia um grave erro em identificar estas intervenções de um exército estrangeiro em países soberanos com a tirania de certas ideologias: pensou-se apenas no confronto entre dois blocos, nos quais o maniqueismo político dividia o mundo, tratando cada qual de pôr todo o bem do seu lado e consequentemente, todo o mal do outro.
Hoje é mais claro que não era disso que se tratava:
Afinal, se procuramos analisar sem preconceitos, na medida em que tal for possível, o que se tem passado na Europa Central, sobretudo após o desmantelamento do chamado bloco soviético, damo-nos conta de que não estamos perante o choque de qualquer ideologia, mas diante do enfrentamento dos imperialismos, que, ignorando o sofrimento das populações, atacam sempre dizendo, como Roma, desde a queda dos Tarqínios, que o fazem para se defender.
Assim vão os grandes engolindo so pequenos, que só podem sobreviver vendendo-se ao mais forte.
E não estou a pensar só no discurso com que as autoridades russas explicaram a intervenção do seu exército na Geórgia, preciasmente quando se copletavam quarenta anos sobre a sua intervenção na Checoslováquia.

sexta-feira, agosto 08, 2008

MEMÓRIA E IDEOLOGIA



Todos sabemos que a ideologia, como sitema fechado de ideias, não consente qualquer desenvolvimento da verdade, que a existir, sempre fica prisioneira das malhas que à sua volta ergue a tirania do sitema.
Não precisamos de recuar muito no tempo para verificar como os interesses ideológicos condicioonam os gestos culturais mais significativos, fazendo até com que muitos deles digam precisamente o contrário do que com eles quis significar quem os realizou.
É por isso que não basta falarem-nos de transparência democática, ou mesmo de puirficação da memória, para nos convencerem a abrir as portas da nossa intimidade, ou da intimidade das instituições, sobretudo quando elas estão precisamente na mira das ideologias.
Também este estar de pé atrás pode ser uma cedência a alguma espécie de ideologia.
Não se nega isso, já que num mundo de escravos a afirmação de que se é livre pode estar completamente esvaziada de conteúdo.
Estamos perante um tema importante, porque o é em si mesmo, mas também pelas efemérides que se aproximam a passos largos, na preparação das quais não se viu ainda qualquer sintoma de fuga a certos olhares vesgos da historiografia nacional.
Este post, porém, não se destina a discutir tal temática:
Gostaria de aproveitar o meu regresso ao “peço a palavra” para manifestar o meu espanto perante as dezenas, senão centenas, de reconstituições da nossa história que se fazem por essas cidades e vilas fora.
Não me tem sobrado o tempo para ver e analisar o rigor científico de tais reconstituições: admito que o tenham, pois em todas elas estão mais ou menos empenhados professores das matérias, às vezes até aldeias.
Mas não dexa de me chamar a atenção o facto de uma grande parte delas se fixarem na Idade Média... quase como se Portugal tivesse adormecido definitivamente no século XIV.
E já não falo das actividades que se situam indevidamente nesse período da nossa históra:
Imaginem que há dias, numa das nossas vilas, se fez a reconstituição de uma feira da Idade Média, com um “parque infantil medieval”.
Isso exigiria pelo menos uma clarificação de conceitos, que não vi nem ouvi em qualquer lado.