peço a palavra

quinta-feira, novembro 23, 2006

PEGUNTAR NÃO OFENDE II


É só perguntar

Resisti algum tempo ao desejo de afazer ao Senhor Dr. Airoso e aos que bateram palmas às suas afirmações, mas como ninguém pergunta, mesmo sabendo que ele não vai responder, ponho-as aqui, a ver se alguém faz a caridade de em ajudar: porque vem aí a célebre pergunta dos senhores deputados, que querem uma resposta em consciência, e eu, ainda que eles pensem que não, sou um homem de consciência... e como se pode responder em consciência sem os devidos esclarecimentos?
Ora, o Senhor Dr. Airoso disse, no tom solene de quem ensina do alto da sua cátedra, que não há nenhuma base científica para dizer quando é que a vida do embrião é vida humana.
Repare-se que ele disse vida humana. Já se abandonou a expressão ser humano, criada para evitar a referência à pessoa, que feria demasiado a semsibilidade daqueles a quem se queria aliciar para a prática do aborto.
Aqui vão as minhas perguntas:
Então, se a nova vida gerada no ventre da mulher – ou pelo encontro do elemento masculino com o feminino – não é vida humana, o que é?
Não se omite um adjectivo tão importante sem dizer porquê e qual o seu substituto, quando se trata de classificar algo que está na origem de todos os dreiitos da pessoa humana.
Mas declarações tão peremptórias deixam-me cheio de dúvidas, mais do que as que tinha já, sobre a legitimidade do aborto, seja qual for o tempo de gestação que se considere:
Pois, se a ciência não pode dizer em que momento a vida do embrião é verdadeiramente vida humana, segue-se que também não pode negar a afirmação daqueles que dizem que a vida humana começa no momento da concepção.
Onde vai então o Estado buscar a legitimidade para estabelecer que até às dez semanas após a concepção, as pessoas – não nos venham com essa hipocrisia das mães que livremente, etc... – têm direito a exigir dos cidadãos que paguem – porque o dinheiro do Estado saiu do bolso de todos nós – a destruição de uma vida que pode muito bem ser uma vida humana?
É só perguntar.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Alavancas


É um pequeno grande livro, como o seu autor, que sempre conheci como um pequeno grande homem.
Dele transcrevo a página seguinte, pela sua actualidade e porque nos dá o tom de toda a obra:
Judas arremessou pelas lajes do templo as 30 moedas por que vendeu o seu Mestre. Escaldavam-lhe as mãos.
Se a justiça mas não exigir, guardarei estas três moedas com que Maria vendeu a sua dignidade.
Pesam-me. Esmagam-me. Queimam-me. Por isso mesmo. Para que não adormeça. Para que não tenha descanso. Enquanto houver no mundo uma irmã minha que para comer tenha de vender corpo, alma e honra.
Enquanto a claridade desta minha Terra estiver eclipsada por vergonhas como esta. Enquanto as quinas da minha Pátria e as velas da Nau Portuguesa andarem emporcalhadas com a lama destas infâmias.
Infâmias. Que a prostituição é a mais repelente, a mais infame das escravaturas.
Permite-me a transcrição. Recorta-a. Rasga-a, se quiseres. Mas não te atrevas a dizer que a Igreja é contra o homem.
«Além disso, são infames as seguintes cosias: tudo o que se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências, tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, com as condições de vida infra-humana, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens; e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis.
Todas estas coisas e outras semelhantes, ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, dos os que as padecem injustamente, e ofendem gravemente a honra devida ao Criador.» (Vaticano II: A Igreja e o mundo actual, nº 27)
Se há HOMENS nesta minha Terra. Se há MULHERES nesta minha Pátria, que apreçam. Onde se encontrar uma Maria-Escrava. A serrar grades. A exigir amnistia. Que toda a Maria-Escrava, tenha caído uma, tenha caído milhões de vezes, conserva inalienável o direito de ser livre. A ser Mulher.

(P. Francisco Fonseca Antunes: Alavancas. Gráfica de Coimbra. s/d. pg. 46-48)