peço a palavra

domingo, abril 12, 2009

UM CONTINENTE SEM VERGONHA

Dos tiros aos preservativos

A vergonha que senti, como europeu, ao verificar a profundidade e extensão do jogo sujo levado a cabo pelos meios de comunicação social deste continente, por ocasião da visita pastoral de Bento XVI à África, quase me impôs o silêncio.
Agora chega-me a notícia de que um governo desta velha Europa decidiu responder ao Papa com o envio de um contentor de preservativos.
Vendo bem as coisas, nem é muito de estranhar, já que os guardas fronteiriços têm ordem de disparar sobre os africanos que tentem escapar clandestinamente à pobreza de que, no fundo, o grande responsável é precisamente o continente europeu.
É, de facto, uma vergonha colossal: vivemos numa sociedade de bem-estar que busca tranquilizar a consciência com tiros e preservativos.
Assim, é perfeitamente natural que não só não entenda, mas que manipule de forma torpe o ensino da Igreja, que, no dizer do Concílio, é especialista em humanidade.

Porque ainda há poucos dias alguém se me mostrava chocado com as supostas declarações do Papa, deixo aqui, para os visitantes que não tenham tido acesso a ele, o texto completo da resposta de Bento XVI a um jornalista que falara do pouco realismo do ensino da Igreja.

Eu diria o contrário. Estou convencido de que a presença mais efectiva na frente de batalha contra o HIV/SIDA são, precisamente, a Igreja Católica e as suas instituições. Penso, por exemplo, na Comunidade de Santo Egídio, que tanto faz e tão visivelmente na luta contra a sida; ou nas Camilianas, só para mencionar algumas das freiras que estão ao serviço dos doentes. Penso que este problema, a sida, não pode ser resolvido com slogans de propaganda. Se falta a alma, se os Africanos não se entreajudarem, o flagelo não pode ser resolvido com a distribuição do preservativo; pelo contrário, arriscamo-nos a piorar a situação. A solução só pode advir dum compromisso duplo: primeiro na humanização da sexualidade ou, por outras palavras, num renovamento espiritual e humano que traga consigo uma nova forma de proceder de uns para com os outros. E em segundo lugar, num amor autêntico para com os que sofrem, numa prontidão – mesmo à custa de sacrifício pessoal – para estar junto dos que padecem.
São estes os factores que podem trazer o progresso, real e visível. Assim, eu diria que o nosso esforço deve ser o de renovar a pessoa humana por dentro, o de lhe dar força espiritual e humana para uma forma de comportamento justa para com o seu corpo e o do outro; e ainda de ajudá-la a ser capaz de sofrer com os que sofrem e de estar presente nas situações difíceis. Acredito que é esta a primeira resposta ao problema da sida, que é esta a resposta da Igreja e que, deste modo, a sua contribuição é uma grande contribuição. E estamos gratos a todos os que assim contribuem.

terça-feira, abril 07, 2009

BASTA DE HIPOCRISIA

A América de sempre e a hipocrisia dos políticos

Afinal em que é que ficamos?
O Senhor Obama, cuja inteligência ninguém pode negar, aproveitando como bom político as circunstâncias criadas pelos erros da administração Bush e a novidade, importante para um mundo mais dependente do racismo do que quer admitir, da presença na Casa Branca de um inquilino que não é propriamente branco, veio à Europa tentar convenecer-nos de que a América tinha mudado. E muita gente acreditou: mérito do tribuno e incapacidade de raciocínio dos ouvintes.
Quanto ao Presidente dos Estados Unidos, ninguém lhe pode levar a mal que monte o seu negócio como lhe sugere o mercado nacional e internacional.
Mas nós, se queremos manter um mínimo de dignidade, não podemos calar-nos com tudo, admitir todas as interferências, inspiradas num paternalismo que nem sequer é sincero: porque o que fica mais claro é que a única coisa que conta para a grande potência americana é o interesse estratégico dos países e das regiões.
Foi por isso que me revoltou, além de outras coisas, ouvi-lo dizer que a entrada ad Turquia na União Europeia facilitaria o diálogo dos países cristãos com as nações islâmicas.
Afinal, a entrada da garnde nação asiática para a comunidade europeia é ou não é uma questão religiosa?
Vai a Europa aceitar que a América a pressione com argumentos deste tipo? A Europa que nem sequer quis que no mal fadado tratado, agora chamado de Lisboa, se fizesse menção das suas raízes cristãs... o que não tinha senão um significado cultural, vai agora alargar a União com motivações de ordem religiosa?
Afinal em que é que ficamos?
Basta de hipocrisia!