peço a palavra

segunda-feira, maio 28, 2007

RADIO E CULTURA




Ignorância ou má fé?

Quando liguei o motor do carro, rádio ligado à antena dois, transmitia-se uma música que me chamou a atenção tanto pelo prazer estético que me causava, como pelo desejo que senti de saber mais sobre aquela belíssima peça: era, afinal – segundo pude concluir das informações atabalhoadas do apresentador do programa – o “Libera me”, da Missa de Requiem composta por Vitória para as exéquias da irmã de Filipe II, Maria de Áustria.
Depois, aquele culto apresentador continuou as suas notas de ordem histórica. Escrevo procurando ser o mais fiel possível ao que ouvi:

Em 1490 nasceu em Guipuzcoa, província de Castela, Inácio de Loyola, fundador de uma ordem que em breve seria a mior defensora das idéias do catolicismo romano. Enviada para a América, aí torturou e perseguiu os povos daquele império, onde, segundo uma lenda antiga, o sol nunca se punha.

Mudei de posto, porque senti nojo de tais disparates, tarnsmitidos por uma emissora estatal, que pretende realizar um serviço público de qualidade.

Guipuzcoa, província de Castela?!
Qualquer dia, este senhor dirá que o Minho é uma província do Alentejo. No que, diga-se de passagem, não cometeria um erro tão grosseiro, seja qual for a perspectiva que se adopte, como o de meter uma região do País Basco nas planuras de Castela.

Mas o cúmulo da grosseria vem depois.
Deixemos de lado o cliché da Companhia de Jesus como a maior defensora das ideias do catolicismo romano (costuma dizer-se que foi a maior força ao serviço da Contra-Reforma).
O que é espantoso é que se afirme que na América “torturou e perseguiu” um povo, para defender o qual acabou por ter contra si as cortes europeias, que, com o nosso rei Dom José e o seu valido, o Marquês de Pombal, à frente, não descansaram enquanto não conseguiram a sua supressão.
Com tais sábios, onde irão parar figuras como Bartolomeu de las Casas, Anchieta e António Vieira?

E a concluir, aquela do sol...
Nos meus tempos de estudante ouvi dizer várias vezes que Filipe II, depois de ser aclamado rei de Portugal, afirmava, com razão, que nos seus domínios, o sol nunca se punha.
Agora, a nossa rádio cultural, a propósito de supostas vítimas de tortura e perseguição, por parte da Companhia de Jesus, fala-nos de um império onde, “segundo uma lnda antiga, o sol nunca se punha”!
Pasme-se da seriedade deste serviço público!

domingo, maio 06, 2007

EUROPEU... QUE PARLAMENTO?

A Canonização do Insulto
Vem de longe o hábito de insultar quando se perdeu a razão, ou não se conseguem argumentos para convencer os outros da justeza dos nossos pontos de vista.
Quando eu era mais jovem, dizia-se que isso acontecia sobretudo nas sociedades culturalmente atrasadas, sem hábitos de discussão de ideias. E assim se explicava que em Portugal se não soubesse discutir: apenas se lutava, com palavras mais ou menos obscenas, contra a dignidade uns dos outros; não havia ideias a comparar, mas adversários a abater.
Cheguei a sonhar que, quando entrássemos no clube dos países democráticos, todos mais cultos de que nós, as coisas melhorassem: afinal, pioraram... porque, de facto, nesta Europa que recusa as suas raízes, ficámos sem valores objectivos, referências seguras, quadros éticos donde nos venham fronteiras que não sejam presídios, mas padrões de liberdade.
Hoje falo apenas de um facto, mas que me parece tão grave, que só não fez estremecer os cidadãos esclarecidos, porque a anastesia das ideologias torna as mentes cada vez mais obtusas.
Sempre ouvi dizer que as fobias, qualquer que fosse o seu tipo, eram doenças que devíamos tratar como tais, com respeito e carinho pelas suas vítimas. E se eram doenças, seria desumano, tanto etiquetar os doentes, como atribuí-las a quem as não tinha.
Pois agora - pasme-se diante do progresso a que chegámos! – há quem venha para a rua gritando contra esses doentes... e consegue-se que parlamentos, como o europeu, proibam estar doente...
Parece uma brincadeira, mas não é.
Há muitos anos que aprendi, em estudos de diversos níveis, que, do ponto de vista da sua orientação sexual, as pessoas se dividiam em heterossexuais – a maioria – e homossexuais... uma minoria que nos últimos anos, por razões que não vêm ao caso, tem vindo a crescer.
Apesar do barulho e dos acidentes legislativos que provocou esta realidade, no campo do significado das palavras, nunca os termos hetero- e homossexual, tiveram qualquer conotação, negativa ou positiva.
Dizer que alguém é hetero ou homossexual, não traz consigo mais do que uma informação, que, como qualquer outra, será recebida por quem a ouvir segundo o seu modo de estar na vida.
Mas não acontece o mesmo, quando se diz de alguém que é homófobo. E foi por isso que um dos candidatos à Presidência da República Francesa, quando um dos seus ouvintes que se apresentava como homossexual, o acusou de ser homófobo, reagiu com violência, dizendo que não admitia que o insultassem pela sua orientação sexual, tal como ele não insultava os outros.
Agora vem o Parlamento Europeu condenar a homofobia... só falta que se ocupe das outras fobias, como, por exemplo, a claustrofobia... a ver se consegue o que os psiquiatras não conseguem.
Pessoalmente não tenho nada, nem nunca tive, contra os homosexuais... só gostaria que deixassem de chamar lésbicas às mulheres homosexuais, porque isso pode conter um erro muito grave em relação a uma grande artista da Antiguidade.
Mas considero um insulto que me chamem homófobo, como se a minha orientação heterosexual resultasse de uma patologia em relação às pessoas do meu sexo; como se fosse uma doença, uma distorsão da personaliadde.